Um relato em três, parte dois: To Dai
“Não há uma pegada do meu caminho que não passe pelo caminho do outro.”
– Simone de Beauvoir
Nos meus primeiros anos como membro da Família Moy Lin Mah, de todos os aspectos além da prática do recém-acessado Sistema Ving Tsun que envolviam ser membro de uma Família Kung Fu, o que mais me chamava a atenção era a relação que a minha Si Fu, a Mestra Sênior Ursula Lima, mostrava ter desenvolvido com os membros do círculo marcial (Mo Lam), como seus irmãos kung fu, seu Si Fu e outras pessoas de várias gerações e Famílias da nossa linhagem.
Apresentando a sequência Siu Nim Tau na minha cerimônia de acesso ao domínio Cham Kiu, no começo de 2017. |
Naquela época eu não tinha o conceito de relação vitalícia muito presente na minha cabeça, principalmente por falta de referências, então imaginar que um dia eu poderia cultivar algo em um nível quase que fraternal “apenas pelo kung fu” era bem difícil... mas em algumas ocasiões, eu tinha vislumbres da proporção que essas relações tinham, e de como iam além do que eu conseguia enxergar com clareza.
Minha Si Fu no começo de sua trajetória, com dois de seus Si Hing mais próximos e que hoje são líderes dos Clãs Moy Jo Lei Ou e Moy Ke Lo Si: meus Si Baak Julio Camacho e Ricardo Queiroz. |
Uma dessas ocasiões foi um encerramento do ano que realizamos com o Clã Moy Jo Lei Ou, onde na ocasião celebramos também o aniversário do marido da Si Fu e co-líder da nossa Família, Ricardo Lopes. No discurso que fez no dia, ele falou emocionado sobre a relação que tinha construído com a Família Kung Fu mesmo não sendo praticante, por ter acompanhado a Si Fu desde que ela começou a praticar, aos 16 anos. Ali eu comecei a perceber que, embora o Ving Tsun fosse a ponte que conectou a vida da minha Si Fu com a vida de tantas outras pessoas, com o passar dos anos as relações foram amadurecendo a ponto de irem muito além das margens que essa ponte conectava.
Tirando um som com o Sing Sam Ricardo Lopes e meu primo kung fu Mestre Thiago Pereira, a quem eu chamo carinhosamente de Si Hing. |
Hoje, como discípulo, assim como a minha Si Fu eu trilho com pessoas tanto da minha quanto de outras Famílias Kung Fu um caminho cada vez mais profundo, e atravessado por outras pontes que o amadurecimento das relações me mostra à cada dia que passa.
Mas isso é assunto pra um outro dia...
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